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Queijo prato com menos sal desenvolvido na Unicamp é aprovado por consumidores

Embora o consumo de queijos contribua pouco para a ingestão diária de sódio, existe o interesse de certos segmentos de consumidores no desenvolvimento de produtos em que seu teor seja reduzido.

 

Avaliar os efeitos da diminuição de sal sobre as características físico-químicas do queijo prato – cujo consumo no Brasil é suplantado apenas pelos tipos muçarela e requeijão – constituiu o foco da pesquisa desenvolvida durante mestrado em tecnologia de alimentos pela engenheira de alimentos Débora Parra Baptista. O estudo deu ênfase à maturação, que é a transformação dos compostos dos queijos, como a quebra das proteínas (proteólise) que ocorre, de forma contínua, por ação de enzimas adicionadas e produzidas pelos microrganismos, levando à formação das características típicas dos queijos maturados, como sabor, aroma e textura que afetam a aceitação sensorial do produto por parte do consumidor.

 

Sabe-se que o sal tem importante papel na definição das características dos queijos, constituindo sua redução um desafio tecnológico. Além de conferir aos queijos o gosto salgado desejável, o sal exerce controle sobre as atividades microbiana e enzimática durante sua maturação e, juntamente com o pH e o teor de cálcio, afeta a hidratação da proteína do queijo (caseína), importante no desenvolvimento das características do produto final.

 

A engenheira de alimentos Débora Parra Baptista, autora da pesquisa, e a professora Mirna Lúcia Gigante, orientadora: características físico-químicas preservadas.

 

Realizado junto ao Laboratório e planta piloto de leite e derivados, do Departamento de Tecnologia de Alimentos, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Unicamp e orientado pela professora Mirna Lúcia Gigante, o trabalho centrou-se na determinação do nível de redução de sal que não afetasse as características físico-químicas e sensoriais do queijo prato, de modo que fosse igualmente aceito pelos consumidores quando comparado aos queijos disponíveis no mercado. Segundo a autora, diferentes estratégias podem ser utilizadas para reduzir o teor de sal dos produtos industrializados. Mas as pesquisas devem ser iniciadas pela determinação do teor mínimo de sal requerido para que sejam atingidas as características desejáveis em cada produto.

 

A importância do trabalho ressalta quando se sabe que o consumo excessivo de sódio é associado ao aumento da pressão arterial, ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e à ocorrência de acidentes vasculares cerebrais. Sua redução em alimentos industrializados tem mobilizado órgãos regulatórios, produtores e áreas acadêmicas na direção de soluções que viabilizem, simultaneamente, a redução de sal e a manutenção da qualidade e segurança dos produtos. Já em 2013, o Ministério da Saúde e a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos fecharam acordo para a redução de sódio em carnes e laticínios, em consonância com a Organização Mundial da Saúde que recomenda a ingestão máxima de 2000 mg de sódio por dia.

 

O estudo foi desenvolvido em parceria com o professor Marcos Nogueira Eberlin, do Laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massas, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, e contou com a colaboração da pesquisadora ­­­Francisca Diana da Silva Araújo.

 

Processo de fabricação em tanque de aço inox do tipo queijomatic: os queijos foram desenvolvidos em um único tanque e divididos em 3 porções que foram salgadas por tempos diferentes de forma a obter queijo controle, queijo com 25% de redução de sal e queijo com 50% de redução de sal.

 

DUAS FASES

 

O trabalho constou de duas fases distintas. Na primeira, foram analisadas dez marcas de queijo prato comercializadas em Campinas, mas provindas de várias regiões do país. Esses queijos foram avaliados quanto à composição (teores de umidade, gorduras, proteínas e sal) e quanto ao perfil de peptídeos, que são os fragmentos obtidos após a quebra das proteínas ou proteólise. Corroborando com dados já publicados pela Anvisa, os resultados indicaram uma variação muito grande na quantidade de sal, que foi de 1,09% a 3,77%, evidenciando falta de padronização dos queijos. Para a autora, “as análises mostraram que esses queijos comerciais, produzidos com diferentes matérias-primas e condições de processamento, apresentaram perfis de peptídeos muito similares quando avaliados no nível molecular e que os resultados sugerem que a redução de sal é perfeitamente possível, uma vez que produtos com teores tão diferentes de sal são aceitos pelos consumidores”. Essas conclusões foram publicadas no Journal of Food Science sob o título A survey of the peptide profile in prato cheese as mesuared by MALDI-MS and Capillary Electrophoresis (Avaliação do perfil de peptídeos do queijo prato por MALDI-MS e Eletroforese Capilar).

 

A segunda parte da pesquisa avaliou o efeito da redução do sal (25% e 50%) na proteólise, firmeza e aceitação sensorial do queijo prato durante 60 dias de maturação. Para esta segunda fase, a autora produziu, pelo processo industrial convencional, mas em escala menor, queijos prato com três teores de sal: os queijos controle, com 1,7% de sal, que corresponde ao valor médio encontrado nos queijos comerciais; e os queijos com redução de 25% e 50% de sal em relação ao queijo controle, ou seja, com teores de 1,23% e 0,84% respectivamente.

 

Na sequência, da esq. para a dir., queijo controle, queijo com 25% de redução de sal e com 50% a menos.

 

Os queijos com 50% de redução de sal mostraram-se de qualidade inferior ao queijo controle e não foram bem aceitos pelo consumidor por serem menos firmes e mais ácidos. Por outro lado, os queijos produzidos com 25% de redução de sal apresentaram o mesmo perfil de proteólise e tiveram características similares aos do queijo controle. Na avaliação sensorial os queijos controle e com 25% de redução de sal receberam as mesmas notas em relação à aceitação global que inclui aparência, aroma, sabor e textura. Esses resultados foram publicados no International Dairy Journal sob o título Reduction of 25% salt in prato cheese does not affect proteolysis and sensory acceptance (Redução de 25% de sal em queijo prato não afeta a proteólise e aceitação sensorial).

 

A professora Mirna destaca que a transformação mais importante durante a maturação é a proteólise, que é caracterizada pela quebra das cadeias de proteínas pela ação enzimática, determinando a textura e o sabor dos queijos. Ela conclui: “No queijo prato, com até 60 dias, período em que nos detivemos, obtivemos queijos bastante saborosos com 25% de redução de sal, sem prejuízo das características funcionais e sensoriais desejadas pelo consumidor. O mesmo não aconteceu quando a redução de sal foi de 50%”.

 

Para as pesquisadoras, a redução de 25% do teor de sal no queijo prato, em relação ao valor médio presente nos produtos comerciais examinados, é possível sem comprometer o desenvolvimento da maturação e suas qualidades físico-químicas e sensoriais, indicando a possibilidade de fabricação de um produto mais saudável.

 


Fonte: UNICAMP

Tirosina, o cristal de proteína que prova que queijo traz felicidade

Embora alguns se enganem pensando ser sal ou açúcar, os cristais que aparecem nos queijos de massa dura são tirosina, aminoácido resultante de uma longa e boa cura. Muito benéfico, combate cansaço e depressão.

 

“A tirosina é um aminoácido que resulta da degradação das proteínas do queijo durante a sua cura. Para que os cristais apareçam, um tempo longo de cura é indispensável. Primeiro as proteínas se dividem em peptídeos, e depois em partículas ácidas menores, os aminoácidos” explicou Sébastien Roustel, pesquisador da escola Enilbio de Poligny, na França e co-autor do Guia de Cura* editado pela SerTãoBras.

 

“Para os cristais serem perceptíveis, é preciso toda paciência do mundo para esperar que as bactérias transformem lentamente as proteínas e ocorra concentração suficiente de tirosina”, disse ele.

 

Queijo gouda de 36 meses: excesso de tirosina pode deixar a massa do queijo muito quebradiça. FOTO: Débora Pereira/Acervo Pessoal.

Para isso, é preciso que o queijo não tenha excesso de água, senão a tirosina é dissolvida. Ou seja, impossível ter cristais em queijos de massa mole, mesmo envelhecidos. Eles aparecem essencialmente em queijo de massa prensada cozida, em geral após um ano e meio de cura. Quanto mais velhos os queijos, maiores os cristais.

 

O italiano Parmigiano Réggiano de 36 meses de cura pode ter cristais de tirosina maiores que um grão de arroz. FOTO: Débora Pereira/Acervo Pessoal.

Antes de pensar na tirosina, pense que cada queijo é um mundo de seres vivos invisíveis. Pense na aventura de um leite ao se transformar em queijo: um espaço de convivência de milhões de micro-organismos e substâncias para alimentá-los, em um meio líquido. De repente, começa a coagulação e esse meio se torna um gel, o que dá o aspecto sólido para o leite. Ao se alimentar do açúcar do leite, esses micro seres vivos vão liberar ácido lático que, com as enzimas e minerais, estabelecem ligações entre as caseínas.

 

“A melhor forma de entender isso é pensar que as caseínas são os ‘tijolos’ e os sais minerais são o cimento, essas ligações dão solidez ao mundo queijo”, disse Sébastien. Se a fermentação láctica acontece de forma bem feita, no dia seguinte da fabricação o queijo já pode ter nenhuma lactose, ou somente traços, porque já foi consumida pelas bactérias lácticas.

 

A cura do queijo começa na fabricação. O leite tem em média um pH entre 6,6 e 6,8. Na transformação em queijo, a massa passa por uma acidificação e esse meio se torna ácido, pH entre 4,8 e 5,2. Em seguida, vem uma fase alcalina. O pH torna a subir, as proteínas vão sendo cortadas em cadeias mais curtas (peptídeos, depois aminoácidos), o que é maravilhoso para liberar compostos aromáticos diversos.

 

Estima-se que 80% dos compostos aromáticos presentes no queijo são ligados à degradação dos aminoácidos e sua consequência em rede. Esse fenômeno é chamado proteólise: os micro-organismos vão digerindo o queijo e o resultado é um alimento muitos mais complexo em número de micro-partículas de sabores, por isso às vezes sentimos gosto de caramelo ou abacaxi em queijos muito curados.

 

Queijo Canastra do produtor Luciano Carvalho, de Medeiros, com 18 meses de cura. Ele foi servido em degustação para 150 profissionais do queijo em Paris em março de 2018, na ocasião da Journée Technique de Profession Fromager, harmonizado com mel e cerveja Mongy Triple, do norte da França. FOTO: Débora Pereira/Acervo Pessoal.

 

QUEIJO COM CRISTAIS DE FELICIDADE

A primeira felicidade de comer um queijo com tirosina é sentir a textura crocante dos cristais provocando as papilas gustativas e derretendo na boca. O efeito psicológico não poderia ser outro: a tirosina cumpre papel ativador dos hormônios da tireoide que combatem ansiedade e depressão. Ela ajuda na formação de neurotransmissores de adrenalina na medula e é considerada antioxidante, ou seja, rejuvenesce**. Por outro lado, Sébastien explica que elas não tem sabor específico, o prazer na hora de degustar o queijo está mais na sensação provocada pela textura.

 

Atletas têm o hábito de tomar complementos de tirosina que, afetando diretamente os níveis de dopamina, podem combater o cansaço. Outros estudos também parecem indicar que ela pode ser útil na perda de peso.

 

Queijo comté de 18 meses (acima à esquerda, ), queijo mimolette de 24 meses (alaranjado) e queijo gouda de 36 meses, com massa quebradiça, todos com cristais de tirosina em tamanhos diferentes. FOTO: Débora Pereira/Acervo Pessoal.

 

AÇÚCAR NO LEITE PARA DAR CRISTAIS DE TIROSINA? NÃO!

Depois de lerem informações na internet sobre os cristais de queijo serem feitos de açúcar, alguns leitores escreveram perguntando se é bom colocar açúcar no leite para fazer queijo. Segundo Sébastien Roustel, essa realmente não é uma boa ideia. O leite já tem seu açúcar natural, a lactose, que é consumida pelas bactérias. O açúcar acrescentado vai dar mais trabalho para as bactérias e vai demorar mais para chegar na fase alcalina necessária para a cura. Pode provocar também manchas e defeitos de cura, não favorecendo de jeito nenhum o aparecimento de cristais de tirosina.

 

Mas doce combina sim com queijo, como o “Romeu e Julieta” imortalizado na goiabada com queijo dos mineiros . Uma boa ideia são os queijos frescos de Minas recheados com goiabada, bananada e doce de leite. Junto a produtores do Serro, o Núcleo de Estudos e Extensão em Ciência e Tecnologia de Produtos de Origem Animal (NEPOA) desenvolveu um estudo*** sobre a técnica de fabricar queijos com goiabada ou bananada no interior. Os queijos são do tamanho de um queijo minas, são firmes e podem ser curados normalmente.

 

Queijo recheado com goiabada. FOTO: Cleube Boari/Acervo Pessoal.

 

 

Fontes:
*Guia de Cura de Queijos, autores Débora Pereira, Arnaud Sperat Czar e Sébastien Roustel, 2017.
** Quer saber mais sobre os benefícios da tirosa? Leia o estudo: “The effects of tyrosine depletion in normal healthy volunteers: implications for unipolar depression.”
***Artigo: Queijos recheados com doces amarelam e ficam firmes.
Jornal O Estado de São Paulo

Conheça a rota do queijo pela Califórnia, nos Estados Unidos

Um dos grandes atrativos da Califórnia, famoso até em filmes, é conhecer os diversos vinhedos do estado. Muitos fazem o roteiro com devoção e, juram, encontram passeios e vinhos tão agradáveis como na França ou na Itália. Pois agora cresce no estado um novo itinerário, também com um ar totalmente europeu: a rota do queijo.

A Califórnia é o local onde estão alguns dos mais importantes produtores de queijos especiais do país e, assim como ocorreu com o vinho, viveu uma fase de sofisticação e diversificação. Assim, no roteiro, é possível encontrar produtos artesanais e familiares de dar água na boca.

Para os amantes da iguaria, a dica é fazer a rota que passa por inúmeras fazendas produtoras do alimento. Ao todo são mais de 70 produtores em um caminho que separada as cidade de Sonoma e Marín.

O site cheesetrail.org possui uma lista com os produtores e informações sobre reservas e preços que ajuda a organizar a viagem e, de quebra, permite baixar um aplicativo que torna o roteiro mais fácil — com a vantagem que pode ser facilmente feito de carro.

Em muitas propriedades é possível ver toda o processo de fabricação do queijo, conhecer a história do produtor e as instalações do estabelecimento. Mas, o mais importante é provar os produtos. Diversos locais preparam pratos especiais tendo queijos como mozarela e ricota de búfala como base, feitos por produtores de localidades como Tomales (a cerca de uma hora ao norte de São Francisco). Não faltam são opções, tanto pela origem do queijo — leite de cabra ou de vaca —, como de tipos de passeios e ofertas de diversão.

Foto: Reprodução/Google Maps via Cheese Trail

Fonte: OGlobo

Demanda por queijo em pó cresce impulsionada por refeições rápidas e lanches

O mercado mundial de queijos em pó deverá crescer com a maior taxa de crescimento anual composta de 2017 a 2023, graças ao aumento das opções de refeições rápidas e lanches on-the-go, ou seja, para se consumir em movimento, disse o Allied Market Research. Importantes membros do setor, incluindo Lactosan, Land O ‘Lakes, Kerry Group, Kraft Foods, Aarkay Food Products, All American Foods, Kanegrade e Dairiconconcepts são algumas das empresas que estão contribuindo de forma significativa para o mercado global.

Satyajit Shinde, especialista em marketing digital da Allied Market Research, disse que as empresas de fast food são fortemente dependentes do mercado de queijos para atender o volume de clientes. “O queijo, agora convertido em queijo em pó, é a versão embalada mais facilmente disponível do queijo no mercado. Os principais membros no mercado de queijos em pó estão focados em expansões, novas variantes e aquisições. Eles estão servindo vários mercados locais e globais”.
De acordo com a Allied Market Research, fatores como a rápida urbanização, a industrialização, a simplificação das tarefas, a introdução de alimentos embalados e o aumento da população trabalhadora são as forças direcionadoras por trás do aumento do mercado de queijos em pó.

A maioria das empresas líderes deste mercado está localizada nos EUA devido à forte demanda. A mudança dos hábitos alimentares dos consumidores teve uma “influência considerável”. “Em 2015, a América do Norte foi registrada como o maior mercado em termos de volume e valor. As regiões da Ásia-Pacífico testemunharão um ‘boom’ no mercado de queijo em pó devido à sua alta renda disponível e à mudança de estilos de vida”.

O mercado de queijos em pó é segmentado de acordo com os tipos de queijo, incluindo muçarela, parmesão, cheddar, queijo americano, queijo azul, gouda e outras variantes de queijo.

QUEIJO CHEDDAR

O queijo cheddar teve a maior participação de mercado desde 2015. O mercado de queijos em pó é voltado aos lanches, como macarrão e queijo, refeições prontas para comer, produtos de confeitaria, diferentes tipos de spreads [creme no estilo de manteiga, margarina, requeijão, queijo cremoso, etc, usado para passar em pães, bolachas e para outros usos], além de redes de fast food, como McDonald’s, Wendy’s, Burger King e KFC. No entanto, Shinde advertiu que notícias negativas sobre as preocupações com o consumo excessivo de queijo em pó ameaçam o mercado.

 

FTALATOS

Por exemplo, a FDA (Administração para Alimentos e Drogas) adverte que o queijo em pó pode conter ftalatos, substância química utilizada para tornar o plástico mais macio e flexível. Também é usado em borracha, tintas, adesivos e embalagens protetoras. Também podem ser encontrados traços em cosméticos, cremes para a pele e até mesmo, fast foods. Os ftalatos são encontrados na maioria dos itens domésticos diários. Este produto químico industrial prejudica os sistemas hormonais e afeta o sistema endócrino, inclusive causando danos potenciais em bebês.
Várias organizações de consumidores nos EUA estão trabalhando para proibir substâncias químicas nesses itens, incluindo o Centro para Segurança Alimentar e Ecologia.

Em resposta, os fabricantes globais de queijos estão aderindo aos regulamentos alimentares e estão constantemente fazendo controles regulares de alimentos para que seus produtos sejam aptos para o consumo. “A inclusão de ftalatos não é obviamente deliberada. Todo o método de processamento e embalagem traz traços de ftalatos para o produto”.

Fonte: Dairy Reporter