A combinação de continuidade de demanda firme e de produção crescente em 2018 deve fazer com que os preços internacionais dos lácteos fiquem em patamares não muito distantes dos registrados este ano, segundo analistas do setor. A expectativa é que as cotações do leite em pó integral – um dos principais produtos negociados no mercado internacional – oscilem entre US$ 2.700 e US$ 3.200 por tonelada no ano que vem.

Desde o começo de outubro, os preços do produto no leilão da plataforma Global Dairy Trade (GDT), referência para o mercado internacional, estão em queda. Começaram o ano perto de US$ 3.300 por tonelada. Caíram abaixo de US$ 2.800 em março, recuperaram-se, mas voltaram a recuar este mês. Segundo Valter Galan, analista da consultoria MilkPoint, a queda recente reflete o aumento da produção de leite na União Europeia e nos Estados Unidos, que mais que compensou o avanço da demanda da China, maior importador mundial de lácteos. “A China está comprando muito, mas a produção nos EUA e na União Europeia cresce compensando a demanda chinesa”, disse Galan.

De janeiro a setembro, as importações de leites em pó (integral e desnatado) pela China subiram 20,6%, para 599,1 mil toneladas. A diferença equivale a 977 milhões de litros de leite. Só entre junho e agosto, o aumento da produção de leite na UE foi de 875 milhões de litros ante o mesmo intervalo de 2016. Nos EUA, foram 1,082 bilhão de litros a mais entre junho e setembro, segundo acompanhamento do MilkPoint.

Segundo Galan, a expectativa é que a China continue ativa no mercado internacional de lácteos em 2018. O petróleo mais valorizado também deve estimular a demanda de países produtores do combustível, como os do Oriente Médio, o México e a Rússia.
Por outro lado, a produção de matéria-prima tende a continuar a crescer, diz. “Principalmente nos EUA, que crescem, consistentemente, 1% a 1,5% ao ano, mas também na UE, apesar da queda de preços, que deve começar a desestimular a produção em alguns países”, acrescenta. Apesar da dificuldade de “cravar” um cenário para 2018, Galan diz que nesse ambiente de certo equilíbrio entre oferta e demanda, os preços devem ficar entre US$ 2.700 e US$ 3.200 por tonelada.

Andrés Padilla, analista sênior do Rabobank Brasil, trabalha com um intervalo entre US$ 2.700 e US$ 3.000 por tonelada para o leite em pó integral no próximo ano. Ele também atribui a recente queda à alta da produção na UE e nos EUA nos últimos meses, estimulada por uma melhora no preço ao produtor. Para ele, a produção mundial deve crescer num ritmo mais lento em 2018 e a demanda por lácteos deve continuar a avançar. Além da China e de países exportadores de petróleo, o analista aponta ainda o incremento da demanda em países do sudeste asiático.

Diante da expectativa de que os preços internacionais fiquem em níveis não muito diferentes dos atuais e num cenário de câmbio entre R$ 3,00 e R$ 3,30, as importações brasileiras de lácteos devem manter os volumes, acredita Padilla. Segundo o Ministério da Agricultura, entre janeiro e outubro as importações somaram 150 mil toneladas, 27% abaixo de igual intervalo de 2016.

Já a produção nacional de leite deve continuar a crescer, também num ritmo menor que neste ano. “O produtor está um pouco desestimulado por causa dos preços e provavelmente o custo de produção será maior”, diz o analista.

 


Fonte: Valor Econômico