Apesar dos sinais de recuperação econômica, o brasileiro continua preocupado, achando que a inflação pode subir e o desemprego, também. Por isso, ele ainda abastece a despensa com produtos básicos como açúcar, café solúvel e detergente em pó. E está aprendendo a viver sem iogurte e creme de leite, entre outros produtos. Essa cautela tem a ver com o cenário que a população desenha para os próximos seis meses.
“A percepção de que a inflação e o desemprego aumentarão subiu devido à queda recente na renda pessoal e à situação financeira futura”, afirma Márcia Cavallari Nunes, presidente do Ibope Inteligência. No mês passado, o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor apurado pelo Ibope Inteligência e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), caiu 3,1% na comparação com agosto, para 98,5 pontos. Esse recuo reverteu o crescimento observado no mês anterior e levou o indicador ao menor patamar deste ano. O brasileiro mostrou pessimismo em relação ao emprego, endividamento e à inflação. O medo do desemprego atingiu o segundo maior patamar da série histórica iniciada em 1996, a 67,7 pontos, apesar dos sinais de recuperação da produção e do emprego. “Para o consumidor, a situação financeira futura não irá melhorar”, disse a executiva do Ibope. Diante disso, o consumidor continua cauteloso quando vai ao supermercado. Pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel, em 11,3 mil domicílios em todo o país, identificou que esse comportamento reflete um orçamento apertado.
“Mesmo que 2017 esteja melhor em termos de inflação, a taxa de desemprego segue elevada. Este cenário beneficia os alimentos e os produtos que são comprados com mais frequência. Por enquanto, os consumidores estão mais racionais para fazer suas compras, procurando as melhores ofertas e as embalagens mais adequadas”, afirmou Christine Pereira, diretora comercial da Kantar. Segundo ela, embora o estudo tenha sido realizado nos seis primeiros meses do ano, o retrato dos hábitos do brasileiro permanece inalterado na metade deste semestre. A pesquisa, que abrange 82% da população nas cidades com mais de 10 mil habitantes, detectou que o consumidor está aprendendo a viver sem alguns produtos como creme de leite, queijo tipo “petit suisse”, alisantes para cabelos e leite pasteurizado. Batata congelada, bebidas à base de soja, achocolatado em pó e hambúrguer estão sendo comprados com mais parcimônia.
Os produtos tiveram retração por dois semestres consecutivos e crescimento nos seis primeiros meses deste ano. No primeiro semestre, a cesta de perecíveis teve retração de 10,2% em unidades compradas e de 13,1% em toneladas, em relação a igual período do ano passado. Se forem considerados todos os produtos, o volume consumido em toneladas subiu 1,2% no semestre, na comparação anual. Neste caso, o destaque é para o impulso nas vendas de bebidas no Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas e Paraíba. Os brasileiros do Norte e do Nordeste estão indo menos vezes às compras, mas lideram o volume consumido, em toneladas, no país. A diretora da Kantar explicou que esse movimento é causado pelo crescimento dos atacarejos, sobretudo no Ceará. Na região Sul também registra-se aumento da quantidade de produtos comprados, com redução na frequência às lojas. Na Grande São Paulo, houve queda de 2,1% em toneladas consumidas, enquanto as idas às lojas ficaram estáveis. A Grande Rio, por sua vez, teve recuo de 3,3%, em toneladas, mas o número de compras subiu 5,6%. Nas regiões metropolitanas, as compras de maior frequência são feitas para pequenas reposições da despensa, principalmente no Rio de Janeiro.
Fonte: Valor Econômico